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De volta ao armário
Na sua “Epistemologia do Armário” (1990), a pesquisadora americana Eve Kosofsky Sedgwick dedicou-se a investigar a figura do “closet” como emblema dos regimes que regulam as fronteiras entre intimidade e exposição, ignorância e saber, na experiência homossexual. Desde os anos 1960, com a ascensão do Movimento Gay e Lésbico, a saída do armário tornou- se um gesto afirmativo, não só individual, mas público e político. Presume-se que esse “outing” revele a verdadeira identidade dos sujeitos, assim, quando o armário se abre, dele emerge um “eu” inteiro, autêntico, ao contrário daquele ente falso, teatral, que vagava disfarçado pelo mundo.
A série de imagens de Agnes Cajaíba parece colocar em crise tais certezas identitárias, descortinando o mundo íntimo de dez transformistas baianos para mostrar o quanto de teatralidade e mascarada já existe nesse espaço privado, onde o armário deixa de ser símbolo da opressão para se converter num ambiente lúdico de (re)invenção do “eu”. Em tais imagens, a identidade se (des)corporifica como bagunça, inversão, excesso, discrepância, paródia, glamour e simplicidade, opacidade e luz, evidenciando os trânsitos e os fluxos que a constituem.
Ao invés da lente que fixa, a objetiva, aqui, serve para conferir movimento ao olhar. Contudo, ela não deixa de lançar uma visada amorosa e humanizadora sobre seus modelos, distanciando-se não só da mirada que busca as “verdades” ocultas, mas também daquela que coisifica a transformista, fazendo dela apenas uma metáfora politicamente instrumentalizada. Assim, Agnes convida a descobrir essa gente que nos diverte, nos espanta, nos surpreende, nos indaga e faz do seu corpo/armário um espaço público de (re)articulação das identidades.
Rodrigo Dourado, curador

Video: https://vimeo.com/49280796

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